Esta publicação apresenta profissionais de entidades associadas à ABRACAM e colaboradores da associação, para que a comunidade se conheça melhor e troque experiências. O convidado deste mês é Rui Mello, Sócio da M.A.R.C.A. Consultoria e Assessoria. Confira a entrevista abaixo.
Como foi sua chegada ao mercado de câmbio?
Em 1981, eu trabalhava na área de informática do Unibanco, que decidiu comprar o sistema de câmbio do Banco de Crédito Nacional (BCN). Foi criada uma divisão que estaria incumbida de customizar o sistema às necessidades do Unibanco. Fui designado para chefiar esta divisão e foi assim o início.
Qual foi sua trajetória no mercado de câmbio?
Entre 1981 e 1985, chefiei a área responsável pela informatização do câmbio no Unibanco. Em 1985, aceitei o convite para uma transferência para a área de câmbio, onde assumi a superintendência administrativa que englobava cinco departamentos centralizados. Em 1987, fui promovido a superintendente regional e passei a comandar também as gerências administrativas das 15 agências de câmbio. Permaneci nessa função até 1995, quando me desliguei do Unibanco e fundei a M.A.R.C.A. Consultoria e Assessoria.
Quem foi seu grande mentor profissional?
Foram duas pessoas: os diretores de câmbio do Unibanco Arnim Lore e Edgar Teixeira, que acreditaram que um “homem de informática” como eu tinha capacidade de entrar na “caixa preta” do câmbio e colaborar para o crescimento e consolidação desse setor. Na época, o dólar variava em uma curva de valorização média de 2% ao dia enquanto a inflação mensal estava em dois dígitos. Aprendi muito com eles.
Qual foi o momento mais desafiador da sua carreira?
Abandonar uma carreira sólida e segura como executivo do mercado financeiro e colocar em prática o propósito de criar uma consultoria que pudesse levar conhecimento, apoio e segurança a um mercado tão regulado e difícil como o de câmbio.
Desde o primeiro dia neste novo empreendimento, percebi que seria muito difícil a vida de consultor se a empresa não tivesse um produto inovador, inclusivo e “amigo” do mercado.
Foi quando tive a ideia de criar o sistema que “sonhei” ter enquanto gestor dos processos de fechamento de câmbio no Unibanco: um sistema automatizado, que reunisse as regras do Banco Central (enquadramento), Aduana (logística de procedimentos) e Receita Federal (tributação) em um só lugar. Assim nasceu o Sistema MARCA, que há 27 anos caminha junto com mais de 300 parceiros que utilizaram ou ainda utilizam nossos serviços.
Pode falar de uma grande alegria ou conquista profissional?
Tenho a alegria de poder contar com minha filha Gisele como parceira e sócia na M.A.R.C.A. Ela é peça importante na missão de bem servir nossa comunidade de clientes.
Uma grande conquista profissional foi ter feito carreira de 26 anos no Unibanco, iniciada como operador de sistemas e encerrada como superintendente regional de câmbio, ocupando diversos postos e cargos sempre criados para me acolher, sem nunca precisar ocupar o lugar de algum colega ou profissional que tivesse sido demitido. Isto sempre me deixou muito orgulhoso e feliz como ser humano.
Como você descreveria o momento atual na sua organização?
O momento é desafiador. Com a rápida evolução das tecnologias, quantidade cada vez maior de informações, globalização das relações comerciais e entrada em vigor do novo marco cambial brasileiro, precisamos estar atentos para manter o Sistema MARCA aderente a tudo isso. É o momento de “saber mais” para “poder fazer mais”.
Qual é seu conselho para quem está entrando agora no mercado de câmbio?
São três conselhos:
Procure entender que estamos começando uma nova fase: após mais de meio século de normas rígidas, centralização de controles e dificuldades processuais para negociar em um mercado muito fechado, a promulgação da Lei 14.286/2021 e suas resoluções regulatórias significa que estamos dando um primeiro “novo passo” para tornar o câmbio brasileiro livre, com a inclusão do real no rol de moedas conversíveis e aceitas internacionalmente.
Fique atento ao que uma reforma tributária poderá impactar, direta ou indiretamente, nos tributos de câmbio.
Entenda que a liberdade cambial levará a um aumento de responsabilidades para os agentes autorizados a operar em câmbio: mais compliance, maiores riscos e necessidade crescente de compreender o funcionamento do mercado internacional.
Para nós que estamos inseridos neste mercado, é preciso muito estudo e trabalho. Boa sorte!