O euro voltou a ser negociado abaixo da paridade em relação ao dólar desde segunda-feira (22). Após um breve rompimento desse suporte em julho, parece que, desta vez, a marca simbólica de US$ 1 por € 1 ficou mesmo para trás.
A perda de valor da moeda única europeia torna atraente a compra no mercado internacional. Segundo a equipe de estratégia de câmbio do BCA Research, os investidores externos podem obter um retorno anualizado de 6% na próxima década se a cotação do euro em relação ao dólar voltar ao seu “valor justo”.
No entanto, as perspectivas de curto prazo para o euro estão repletas de riscos. Afinal, diante dos problemas econômicos cada vez piores da zona do euro, um período prolongado de fraqueza da moeda parece mais provável.
“Com a cotação novamente abaixo do nível de paridade simbólica, a recuperação do euro a partir de meados de julho provou ser de curta duração”, afirma o economista sênior de mercados da Capital Economics, Jonas Goltermann.
Euro sob pressão
Enquanto isso, as notícias na Europa continuam piorando. Os preços de energia estão subindo, o que mantém a inflação acima do previsto, enquanto os indicadores da atividade econômica apontam para uma recessão.
“Os preços mais elevados da energia são negativos para o crescimento da zona euro e prejudiciais para as perspectivas de inflação”, observam os estrategistas do BCA Research. Ao mesmo tempo, os diferenciais das taxas de juros na zona do euro e nos Estados Unidos também favorecem o dólar.
Com isso, até mesmo a tentativa de uma postura mais agressiva (“hawkish”) do Banco Central Europeu (BCE) caiu por terra. Nem uma forte alta da taxa de juros por parte do BCE conseguiria fortalecer o euro, por ora.
“Grandes altas de juros não são favoráveis à moeda quando são feitas para manter as expectativas de inflação ancoradas e prejudicam as perspectivas de crescimento ao mesmo tempo”, disse Sam Zief, chefe de estratégia global de câmbio do JPMorgan, à Bloomberg.
Com isso, o viés de baixo para o euro tende a persistir. “O prêmio de risco da paridade pode durar vários meses, como aconteceu em 2015 e em 2018”, prevê o estrategista de câmbio do ING, Francesco Pesole.
Ele se refere à crise da dívida na Grécia e à turbulência política na Itália. Ainda assim, o ING avalia que a cotação do euro em relação ao dólar permanece subvalorizado em cerca de 5% com base no valor justo de curto prazo.
E no Brasil?
Com o euro fraco lá fora, a dúvida é se a mesma premissa é válida para o câmbio doméstico. Uma vez que o real brasileiro é mais fraco tanto em relação ao dólar quanto em relação ao euro, é preciso medir as forças frente a ambas as moedas.
Nesse sentido, chama a atenção o fato de o real estar com uma das melhores performances entre os pares emergentes, enquanto as moedas desenvolvidas se desvalorizam. “Há um movimento misto nas moedas, com as emergentes seguindo as commodities e se valorizando”, comenta o operador da Renascença Corretora, Luís Felipe Laudísio.
Para ele, o real deve seguir se beneficiando desse movimento das commodities industriais e também do fluxo de capital estrangeiro em direção à renda fixa e à renda variável local. Aliás, é a chegada desses recursos externos que têm blindado os negócios domésticos e permitindo uma dinâmica própria também do Ibovespa.
Sai dólar, entra euro
As casas de câmbio têm sentido os efeitos da paridade euro/dólar e veem a procura pela moeda única europeia aumentar. Esse aumento na demanda se dá principalmente com a finalidade de turismo.
Em meio à retomada das viagens internacionais, a presidente-executiva da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam), Kelly Massaro, comenta que o euro tornou-se mais atrativo do que o dólar nos últimos dias.
“O euro é a segunda moeda mais procurada para o turismo. Agora, as pessoas estão olhando mais para ele”, diz.
Partiu Europa?
Já o sócio-diretor da Pronto Invest, Vanei Nagem, calcula que a procura por euro aumentou de 25% a 30% nos últimos dias, na comparação com o movimento observado quatro meses atrás.
Segundo ele, a orientação é comprar um pouco da moeda única agora. E, depois, para quem for viajar no médio ou longo prazo, comprar mais uma remessa de euro.
“A perspectiva de melhora da economia da Europa é pequena. Então, há mais espaço para desvalorização do euro ante o dólar. Com isso, dá para esperar um pouco para comprar mais moeda”, observa Nagem.
Na mesma linha, o diretor de câmbio da Correparti, Jefferson Rugik, reforça que a procura aumentou em um terço, principalmente, por pessoas físicas em busca de euro turismo.
“Mas o conselho para clientes e empresas é fazer uma cotação média, já que há chances para mais quedas do euro”, orienta.
Segundo o site “Meu Câmbio”, que lista a cotação de corretoras e bancos especializados em moedas e autorizados pelo Banco Central, o preço médio do euro turismo, hoje, está em R$ 5,26. É o menor valor desde o fim de maio. O preço considera a compra de moeda em espécie e sem a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
Com Flávya Pereira.
Moeda brasileira perdeu força em relação à estadunidense no primeiro semestre, mas se fortaleceu ante euro, libra e pesos chileno e argentino
Pedro Guimarães*da CNN
Rio de Janeiro
Enquanto o dólar segue valorizado em relação ao real —a moeda do Brasil se depreciou 1,24% em relação à americana no primeiro semestre deste ano—, o dinheiro dos brasileiros ganhou força frente ao de outros países no mesmo período.
Essa valorização do real frente a outras moedas se deve a fatores como a alta taxa de juros, que atrai mais investimentos estrangeiros ao país, e à paridade do dólar e do euro, que fortaleceu o real frente à moeda europeia, segundo especialistas ouvidos pela CNN.
Segundo o levantamento da Travelex Confidence, uma das maiores casas de câmbio do mundo, esse movimento contribuiu para que os brasileiros comprassem mais euros e moedas menos negociadas, como a libra esterlina, os dólares canadense e australiano e os pesos mexicano, argentino e chileno.
“Notamos que a participação do dólar na quantidade vendida de papel-moeda entrou em queda, enquanto o euro e outras moedas registraram um aumento”, conta Marcos Weigt, head de tesouraria da Travelex.
O real valorizou 7,55% frente ao euro, 9,67% em relação à libra e chegou a ampliar em 13,75% e 17,43% na comparação com os pesos chileno e argentino, respectivamente. A alta fez com que a procura pelo euro aumentasse em 1.100% no primeiro semestre de 2022, em comparação com o mesmo período de 2021, além de elevar a participação das vendas de moedas menos negociadas nas casas de câmbio, que saltou de 11,8% do total do início do ano para 13,8% em julho.
Dentre os fatores que explicam o cenário positivo da cotação do real e o consequente aumento da procura frente a algumas moedas, a economista e professora de MBAs da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carla Beni, ressalta o fenômeno da paridade do euro com o dólar, que aconteceu pela primeira vez em 20 anos:
“Com a paridade, o real ganhou força contra o euro e perdeu força contra o dólar. Como as pessoas puderam viajar com a abertura das fronteiras, elas aproveitaram o momento que a moeda da Europa ficou interessante, assim como as outras moedas da América do Sul”, explica a economista.
No último mês, as pesquisas por viagens a países da Europa, Chile e Argentina superaram as buscas pelo turismo nos Estados Unidos, segundo a plataforma Google Trends. A presidente executiva da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam), Kelly Massaro, destaca a mudança de destino no setor provocada pelas diferentes cotações:
“As pessoas estão fazendo análises de viagens e acabam optando por países onde o favorecimento da moeda brasileira fica sendo melhor. Hoje, estamos tendo uma procura muito boa para a libra esterlina – moeda oficial do Reino Unido -, dólar australiano e até o peso argentino – que sofre com o chamado ‘dólar azul’”, afirma Massaro.
Outro fator apontado pela economista da FGV e pelo head da Travelex Confidence é a alta taxa de juros do Brasil. Com a taxa Selic em 13,25%, o país manteve a liderança no ranking de maiores juros reais do mundo. O número acaba mudando o cenário do câmbio do país, e favorece a entrada de capital estrangeiro para aproveitar a taxa, de acordo com as explicações de Beni e Weigt.
Expectativa para o segundo semestre
Apesar do otimismo, o quadro de recessão internacional desenhado nos países desenvolvidos aponta para um cenário diferente no segundo semestre de 2022, segundo Carla Beni. Ela afirma que pela ótica do turismo, que puxou o movimento das casas de câmbio, a expectativa não se espelha no resultado dos primeiros seis meses do ano:
“A gente espera um arrefecimento. Quando você tem uma desaceleração das economias desenvolvidas, não se espera uma demanda ou movimentação tão alta do turismo”, explica. “Também não colocamos grandes esperanças na economia local porque temos eleições no meio do caminho, que faz com que o cenário oscile bastante”, completa a economista.
*Sob supervisão de Helena Vieira
Acesse a matéria: https://www.moneytimes.com.br/euro-permanece-abaixo-da-paridade-em-relacao-ao-dolar-e-hora-de-comprar/