A Câmara dos Deputados aprovou, na última semana, o projeto de lei do novo marco legal do câmbio. O tema, que passará pelo Senado, pode acirrar ainda mais o setor bancário, segundo especialistas. As fintechs estão prontas para abocanhar mais uma fatia do mercado, mas o câmbio demanda atenções extras.
Dentre as medidas do marco do dólar, instituições financeiras poderão utilizar a moeda estrangeira para investimentos, financiamento e alocações de capital. Além disso, os custos de transação e custódia, por exemplo, devem ser reduzidos, abrindo espaços para bancos de menor porte, como as fintechs.
As startups ligadas a serviços financeiros, contudo, precisam otimizar suas operações, uma vez que as operações de câmbio são também um “serviço”, e não somente um produto.
Segundo Kelly Massaro, presidente da Associação Brasileira de Câmbio (Abracam), o serviço do câmbio é personalizado e não demanda somente automatização e digitalização. “As fintechs podem, sim, acirrar a concorrência com o novo marco legal do câmbio, mas ainda vemos que será necessário manter um atendimento mais personalizado e pessoal”.
A discussão vem à tona pois os bancos digitais, em sua maioria, priorizam a simplificação das operações e redução dos custos, tanto os operacionais como para os clientes. Com isso, sem a existência de agências, atendimentos presenciais ou então personalizados, pode haver uma incongruência com o mercado de câmbio.
“O mercado do dólar ainda demanda a presença um profissional atendendo de uma forma próxima, criando um relacionamento real, sobretudo com as empresas. As companhias de grande porte tem esse contato é mais próximo em função da criação de departamentos internos que cuidam especificamente disso”, comenta Kelly Massaro sobre o mercado corporativo.
A presidente da associação afirma, no entanto, que isso não é presente nas pequenas empresas. “Não adianta termos essas automatizações e reduções de custos, facilitados pelo novo marco, enquanto os ofertantes do serviço ainda não dominam as demandas.”
Para ela, o mercado do câmbio não é suscetível ao mesmo dinamismo de outros setores, como o e-commerce, que teve grandes avanços em 2020 no Brasil, principalmente por conta de complexas questões tributárias que as instituições tradicionais já dominam há décadas.
Fintechs sempre estarão à frente, diz especialista
De acordo com as medidas estabelecidas no novo marco do câmbio, o número de casos em que será permitido efetuar pagamentos de obrigações no Brasil com moeda estrangeira será elevado. Isso demanda tecnologia.
Para Jefferson Laatus, estrategista-chefe da consultoria de educação e treinamento que leva o mesmo nome, o novo marco expressa a razão pela qual “as fintechs estarão sempre à frente”.
“Quando pensamos em fintechs, nos referimos a empresas de tecnologia. Ou seja, elas possuem uma maior facilidade para implementar inovações tecnológicas, como também ocorre com o open banking que está em vias de implementação.”
Laatus lembra que o maior sinal de adaptabilidade dos bancos digitais é a ampliação para atuação em outros nichos. O Banco Inter (BIDI11), por exemplo, tem expandido seu braço de financiamentos imobiliários, enquanto o Nubank deu início à oferta de seguros em seu aplicativo.
“Vale ressaltar que o novo marco legal do câmbio já é de conhecimento do mercado há anos, então as fintechs nasceram e foram estruturadas com base nas novas medidas de atuação com o capital estrangeiro. Só estavam esperando a aprovação de fato”, afirmou o especialista. A porta-voz da Abracam, por outro lado, diz que isso também beneficiou os grandes players.
A representante da associação pontua que “mesmo embaixo das grandes instituições existem startups que possuem maior mobilidade para atuar no mercado”. Dessa forma, não é possível concluir que os bancões ficarão totalmente para trás, na visão da Abracam.
Startups e grandes bancos podem operar de forma conjunta
O consenso da “guerra” entre fintechs e grandes bancos não é compartilhado pelo Meu Câmbio, plataforma de câmbio e remessa de moedas estrangeiras.
“As fintechs vêm revolucionando a maneira com que os brasileiros se relacionam com o dinheiro e com os serviços financeiros. Esta mudança, na maior parte das vezes, é realizada em parceria com instituições tradicionais. Um exemplo é a plataforma para operações de câmbio comercial desenvolvida por nós, o primeiro marketplace para operações de câmbio comercial do Brasil”, dizem os representantes da plataforma, que se veem como fintech.
Assim, a plataforma e grandes bancos conseguem captar clientes com a tecnologia oferecida, “permitindo uma parceria benéfica para as instituições que angariam consumidores a custos menores”. “Os clientes, por sua vez, têm maior transparência de custos e taxas nas operações comerciais”, diz a empresa.
“Desta forma, preferimos dizer que a concorrência no mercado financeiro vem crescendo e continuará a crescer como um todo, seja com as fintechs ou as grandes instituições, de forma a fazer do consumidor o grande vencedor com esta dinâmica”, afirmam.
por Jader Lazarini
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